O ídolo do chamado
Jesus criador, carpinteiro, jardineiro e rei
O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. (Colossenses 1:15, 16)
Permitam-me iniciar minha meditação sobre a primeira aparição de Jesus à humanidade lá no início do tempo.
Essa passagem de Colossenses deixa bastante claro que Jesus – juntamente de Deus Pai e do Espírito Santo – estava presente na criação do mundo. Não apenas isso, mas todas as coisas foram criadas por meio de Cristo. Em outras palavras, Jesus é o Deus Criador que lemos em Gênesis 1:1: “No princípio, criou Deus (...).”
Antes que Deus falasse que ele é amor, antes que falasse que ele é santo, antes que falasse que ele é salvador, Deus queria que soubéssemos que ele é um Deus trabalhador, criativo e produtivo.
A história de um Deus que trabalha é bastante única na imensa lista de mitos criadores ao redor do mundo. Qualquer outra religião diz que os deuses criaram a humanidade para servir e trabalhar pra eles. Ninguém se atreveria a dizer que o próprio Deus trabalhou – muito menos ousaria introduziria esse fato logo no início da história.
Essa verdade carrega o significado supremo ao trabalho que realizamos ainda hoje. O trabalho não é algo sem sentido. O trabalho é algo central para entender quem Deus é e, portanto, é também central para entender quem nós somos como criaturas feitas à sua Imagem e Semelhança. Esse é um dos maiores significados da primeira revelação de Jesus Cristo.
E não é todo e qualquer trabalho que Deus realiza. Ele realiza um trabalho criativo – o trabalho de tomar riscos ao criar coisas novas para o bem do próximo. É o trabalho de empreendedores e artistas, contadores de histórias e executivos, marketeiros e mães. Esse é o tipo de trabalho que Jesus realizou, na sua segunda aparição na narrativa bíblica, quando ele nasceu na família de um carpinteiro.
O ídolo do chamado
E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala. E aconteceu que, partindo eles do oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali. E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal. E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra. Então desceu o Senhor para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam; E o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer. Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro. Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade. (Gênesis 11:1, 8)
Nesse devocional, estou defendendo a ideia de que o motivo pelo qual muitas pessoas estão descontentes com seus trabalho se dá pelo fato de que elas possuem uma perspectiva errada do trabalho, uma perspectiva não bíblica. Isso faz com que elas caiam em um de dois extremos: ou que não enxerguem significado algum em seus trabalhos, ou que vejam no trabalho o significado último da existência.
Acabamos de ver como as Escrituras desqualificam a ideia de que o trabalho não possui significado algum. Agora, pretendo lidar com o extremo oposto e, acredito, aquele que a grande maioria de nós está familiarizada: atribuir significado demais aos nossos trabalhos.
Na cultura ocidental moderna em que vivemos, temos elevado nossos trabalhos e nossos chamados ao status de um ídolo, onde esperamos que a carreira perfeita para nós ira nos providenciar a perfeita realização e satisfação em nossas vidas. Enquanto as gerações anteriores às nossas olhavam para a família, à Igreja ou até mesmo para o seu país como significantes, nós olhamos para a instituição do trabalho, aos nossos perfis no LinkedIn e em como responderemos àquela inevitável pergunta introdutória: “o que você faz?”
Se algum trabalho específico não nos causa o senso imediato de satisfação e traz a felicidade que esperamos, nós mudamos de trabalho, pulando de galho em galho, apenas para nos desapontarmos mais uma vez.
Por que permanecemos falhando em encontrar esse nível cósmico e satisfatório de felicidade em nossos trabalhos? Porque, ao mesmo tempo que Deus não criou o trabalho para que ele não seja algo sem significado em nossa existência, ele também não o criou para ser o significado último de nossas vidas.
Esse trecho de Gênesis é ótimo para o ponto em que quero chegar.
Somos informados que os babilônios construíram uma torre, não com o intuito de adorar a Deus, mas de adorarem a si mesmos. Em Gênesis 11:4, lemos que um trabalhador babilônio diz o seguinte
(...) edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome.
Não é suficiente, para os babilônios, trabalhar pela alegria do próprio trabalho. Eles esperavam que seus trabalhos trouxessem algo que não tinha relação nenhuma com a vontade de Deus. Isso soa familiar aos seus ouvidos? Deveria, pois esse é o mantra de nossa era moderna.
Em sua maravilhosa graça, Deus faz o trabalho dos babilônios chegar ao fim. Ainda que saibamos que ele não virá fisicamente – não ainda – até o seu escritório para fazer o mesmo com você, sabemos, no entanto, que ele deixou claro em sua Palavra que nossa missão de encontrar nosso télos em nossos trabalho é um erro extremamente tolo.
A Palavra de Deus nos diz claramente que não podemos esperar, nem significado algum, muito menos esperar todo o significado de nossas vidas em nossos trabalhos.
A Bíblia nos diz como nos movermos no meio desses espectro? Sim, ela mostra isso na pessoa de Jesus Cristo.
Jesus e o significado do trabalho
Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto. (João 14:6, 7)
Nesse devocional, busquei evidenciar o porque 9 entre 10 pessoas estão infelizes com os seus trabalhos. Isso acontece porque o sentido que atribuem aos seus trabalhos não é bíblico. Ou elas esperam muito deles, ou não esperam nada.
A Bíblia claramente desqualifica ambos os extremos, mas nos deixa com uma questão: qual é, segundo a Bíblia, o verdadeiro significado do trabalho? Como podemos encontrar significado e alegria em nossos trabalhos sem olharmos para as nossas carreiras como a finalidade de nossas vidas e forma de satisfação última? A resposta está em Jesus Cristo.
A Bíblia no da pouquíssimas informações sobre o que Jesus estava fazendo entre seus 12 e 30 anos. Uma das poucas informações que temos é que ele trabalhou como carpinteiro (veja o que está escrito em Marcos 6:3). Isso é impressionante! A única coisa que a Bíblia nos diz sobre o que Jesus fez por pouco mais da metade de sua vida, é também uma revelação de seu caráter trabalhador e criativo, assim como o de seu Pai celestial. Deus poderia ter feito com que Jesus fosse um sacerdote ou um Fariseu. No entanto, ele fez com que Jesus crescesse como um trabalhador, e um que cria novas coisas, assim como eu e você.
Nesse sentido, Jesus – a personificação de Deus – demonstrou aquilo que o Pai nos mostrou desde o começo dos tempos: o bom significado inerente ao trabalho.
Enquanto Jesus claramente celebra o significado do trabalho, ele também deixa claro que apenas uma coisa pode providenciar satisfação e significado último às nossas vidas: Ele mesmo. Em João 14:6, Jesus diz:
Eu sou o caminho, e a verdade e a vida.
Nós não somos aquilo que fazemos para viver. Por meio da fé em Jesus Cristo, somos adotados como filhas e filhos do Rei. É apenas quando conseguimos descansar nessa verdade que conseguiremos também parar de buscar significado em nosso trabalho ou em qualquer outra coisa. Será nesse momento que nós, como Jesus, poderemos enxergar os nossos trabalhos da maneira como Deus queria que fosse desde o início: uma ótima expressão de adoração, uma forma de glorifica-lo e um modo de amarmos o nosso próximo como a nós mesmos.