Episódio de hoje: Como ler bem, segundo C.S. Lewis

Quem não gosta de C.S. Lewis hoje em dia? A fantasia de Crônicas de Nárnia ou da Trilogia Cósmica, o candor de Quatro amores e Anatomia de uma dor, a sagacidade de Cristianismo puro e simples e Cartas de um diabo a seu aprendiz; a profundidade de abolição do homem e O peso da glória. Quem não admira a sua vida? De ateu convicto a cristão brilhante; das trincheiras francesas da Primeira Guerra aos bombardeios da blitz na Segunda; da sua longa amizade com Tolkien ao seu curto casamento com Joy Davidman; para completar, ele morreu no mesmo dia de John Kennedy e Aldous Huxley.  Realmente só a sua vida já dá um livro (e deu, na verdade: Surpreendido pela alegria é a sua autobiografia). 

Mas não deixe todo esse glamour te impressionar. Lewis pode ser conhecido por apologética e teologia, mas ele nunca foi ordenado, nem se formou em teologia. Pode ser conhecido por sua ficção, mas ele vivia dela. Num dia comum, C.S. Lewis era mais um professor universitário, primeiro em Oxford e depois em Cambridge. E o que ele passava o dia fazendo era pesquisar e ensinar literatura. É, eu acho que ele deve saber ler bem, e ensinar a ler bem.

Então, quando vamos falar de como ler bem, estamos com Lewis no seu melhor, na sua especialidade. Na verdade, ele escreveu um livro inteiro sobre leitura e o que distingue uma boa leitura da má: se chama “Um experimento na crítica literária”, e foi um dos últimos que livros que ele publicou em vida. O que Lewis faz nesse livro é redefinir a tarefa convencional do crítico literário (avaliar livros e descobrir os bons) como descobrir quais livros são bons com base em eles ensejarem uma boa leitura.

O cerne de uma boa leitura para Lewis é receber o livro, em seu conteúdo e em sua forma, ao invés de simplesmente usá-lo. Como ele diz, “a primeira demanda que qualquer obra de arte faz sobre nós é: renda-se. Olhe. Ouça. Receba. Saia da frente.” É imaginar obedientemente segundo o padrão do autor, em vez de empregar o livro para ajudar nos nossos devaneios pessoais. É claro que vamos precisar “usar” as palavras em certo sentido, precisando ir além delas para imaginar a história ou argumento que elas invocam. Mas o verdadeiro leitor pega esse conteúdo e descansa nele como um fim em si mesmo, ao menos temporariamente. Ele não é apenas mais uma peça no seu mundinho pessoal, uma diversão, um passatempo ou um alívio pessoal.

Desse ponto de partida, podemos ver nos escritos de Lewis algumas dicas bem contraintuitivas para leitura, sendo a primeira exatamente esta: Leia por ler. Ou seja, leia para receber o que realmente está ali, em vez de simplesmente para satisfazer uma necessidade pessoal. Lewis observa que as pessoas que sabem ler bem gostam de concentrar toda sua atenção no livro, tanto que as outras pessoas não conseguem entender por que os livros importam tanto. Enquanto outros leem por status (quem não conhece aquele que se gaba todo final de ano quantos livros leu) ou por cultura (quem não conhece aquelas pessoas que se leem só para saber aquilo que “todo mundo anda falando”), o bom leitor lê porque ler já é motivo suficiente. 
 
Uma segunda dica é Leia humildemente. Na ficção, o seu objetivo deve ser entrar na imaginação do autor e ver o mundo dele com os olhos dele. Não leia simplesmente para se divertir ou se sentir bem. Na não ficção, você deve suspender a sua discordância e se permitir seguir o argumento do autor, se deixar pensar como ele, para só depois descobrir se concorda ou não. Não leia apenas para confirmar suas opiniões. Como Lewis disse, “nunca vamos saber se uma escrita é ruim a não ser que comecemos a lê-la como se fosse muito boa e acabemos descobrindo que estávamos superestimando o autor, no final”.


Em terceiro lugar, Leia prestando atenção nas palavras — até mesmo “oralmente”. Os não literatos, quem não lê bem, querem apenas ler narrativas rápidas e com o mínimo de elaboração formal, porque tudo que eles querem saber são os eventos, “onde a história vai dar”. O leitor literato, por sua vez, presta atenção nas palavras, a ponto de lê-las com os olhos e com os ouvidos também, sentindo a sua forma bem como seu conteúdo. Ele obedientemente deixa sua imaginação seguir o caminho que o autor determinou. E ele só pode saber isso com as palavras.


Em quarto lugar, leia mais de uma vez. Em Sobre Histórias, Lewis diz que um livro não valia nada para ele antes que o lesse duas ou três vezes. Justamente porque os eventos, o “conteúdo”, não é tudo que importa, cada nova leitura pode ser uma nova experiência, como uma nova visita a uma paisagem da infância.

Em quinto lugar, vá as fontes, ou seja, leia coisas velhas, especialmente se tratar de coisas cristãs. Ele chega a aconselhar em sua introdução ao clássico Sobre a encarnação de Atanásio a você ler um livro antigo a cada novo que você lê, ou pelo menos, a cada três novos que você lê. Ler coisas antigas nos permite ler o que realmente passou o teste do tempo e nos permite sair da perspectiva limitada da nossa cultura. E talvez até ver uma coisa nova ou outra que não podíamos ver nela, mas os antigos viam o tempo todo. 

Então eu acho que te decepcionei agora. Você começou esse podcast porque talvez queria ler “mais e melhor” ou para gostar mais de ler ou para ter uma leitura mais eficiente. E o que eu te dei foi uma série de dicas bem contraintuititivas, que não parecem tão práticas ou agradáveis assim: seguindo elas, parece que a sua leitura vai ser mais lenta, ter menos resultados práticos e menos relevante para a sua vida. Sem falar que você deveria ler um bom livro mais de uma vez. Que bem pode vir de uma leitura assim?

E é justamente aí que a teoria de Lewis toca a sua teologia. O bem específico da literatura é nos permitir sair de nós mesmos, em termos mais técnicos, leitura é um exercício em autotranscendência. Como Lewis colocou, “o homem que se contenta em ser apenas ele mesmo, e assim menos ele mesmo, está preso. Os meus olhos não são suficientes para mim, eu preciso ver com os olhos  dos outros [...] Ao ler o melhor da literatura eu me torno mil homens e continuo eu mesmo. Como o céu noturno de um poema grego, eu vejo com uma miríade de olhos, mas ainda sou eu quem vejo. Aqui, como na adoração, no amor, na ação moral e no conhecimento, eu me transcendo; e eu nunca sou mais eu mesmo do que quando o faço”.

Isso tem tudo a ver com a teologia e a cosmovisão de Lewis. Lembra o final de Cristianismo puro e simples, de Quatro amores e ensaios como O peso da glória. É algo que você pode encontrar nos principais livros dele, chegando a ser um mito, uma grande narrativa que organiza todos eles. Veja um trecho do primeiro: “É só quando me volto para Cristo, só quando abro mão de mim mesmo para me entregar à sua Pessoa que começo a ter uma personalidade realmente minha. No começo, eu disse que há Personalidades em Deus. Quero ir além dessa afirmação. Não há personalidades reais em nenhum outro lugar. Enquanto você não tiver se entregado a ele, não será um ‘eu’ verdadeiro”.

Percebeu a semelhança? Esse princípio de “perder a sua vida para se achá-la” perpassa toda a criação, das nossas emoções pessoais até a literatura, do amor em suas variadas formas até à adoração. Por que a realidade assim? Para Lewis (num insight agostiniano), é porque Deus é assim. Deus, sendo Trindade, se encontra sempre no outro, existe sempre na relação de entrega mútua entre Pai, Filho e Espírito. Como ele coloca, com certo exagero, em O problema do sofrimento:

“Na dádiva de nós mesmos, mais do que em qualquer outra coisa, entramos em contato não só com toda a criação, mas com todo o ser. Pois o Verbo Eterno também Se dá a Si mesmo em sacrifício; e isso não apenas no Calvário, pois quando foi crucificado Ele ‘fez debaixo das intempéries de suas províncias remotas o que fizera em seu lar na glória e com alegria’. Desde antes da fundação do mundo, Ele entrega a divindade gerada de volta à divindade geradora, em obediência. E da maneira como o Filho glorifica o Pai, assim também o Pai glorifica o Filho [...] Desde o superior ao mais inferior, o ego existe para ser abdicado e, por essa abdicação, se torna tanto mais um verdadeiro ‘eu’, para ser então ainda mais abdicado, e assim para sempre”

Ao criar o mundo do nada, o padrão não poderia ser diferente. O mundo precisa se encontrar nele constantemente para continuar existindo. E é ainda mais verdade para nós seres humanos, tanto é que no momento que centramos tudo em nós mesmos caímos, e morremos. Fomos enganados pelo diabo pensando que podemos ser deuses competindo com Deus e tomando o lugar dele. Maldanado em Cartas de um diabo afirma que “toda a filosofia do Inferno repousa sobre o reconhecimento do axioma de que uma coisa não seja outra e, especialmente, que um ser não seja outro ser. Meu bem é meu bem e seu bem é seu bem. O que um ganha, o outro perde [...] ‘Existir’ significa ‘estar em competição’”.

E Deus para nos salvar segue o mesmo padrão. O Filho de Deus se torna filho do homem para que os filhos dos homens se tornem filhos de Deus. O Filho entra no nosso mundo para que entremos no dele. Na cruz, ele se entrega pelos nossos pecados para rachar a nossa prisão de ensimesmamento, num ato de arrependimento perfeito. E o Espírito nos contagia com a vida ressurrecta do Filho para que nos neguemos e nos encontremos nele.

É por isso que a boa leitura precisa ser uma leitura receptiva. Deus nos criou assim.  Deus nos salvou assim. Deus é assim. Nós seremos eternamente assim. Não tem outro jeito de ser humano sem ser receptivo. Não tem como nos conectarmos com outro ser humano sem amarmos a ele como a nós mesmos. É por isso que precisa ser uma leitura humilde. Humildade segue o fluxo que existe no próprio Deus, que, sendo Deus, vive em comunhão e se encarnou em homem.  É por isso precisa ser uma leitura que se entrega completamente ao texto — em suas palavras, em sua forma, em sua antiguidade, em sua alteridade. Afinal, é isso que Deus faz: se entrega. Talvez, enfim, seja por isso que Deus nos deu um Livro: para lermos bem e receber, receber a ele próprio. 


Em Suma (Transcrição) - 6. Como ler bem, segundo C.S. Lewis

Ler bons livros é essencial para o cultivo de uma sabedoria cristã. Isso já é um tanto óbvio, mas vale a pena repetir: é muito importante que o livro que você está lendo te alimente como se fosse uma boa carne. Amy Carmichale escreveu – inclusive, em um dos livros que destacarei nesta lista – que “**somos aquilo sobre o que pensamos**.”

De fato, apenas nos tornaremos pessoas sábias se tivermos uma dieta regrada segundo os nutrientes da sabedorias. Essa é, na verdade, a ideia central do meu livro *[A Pirâmide da Sabedoria](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/8708/)*, que contém um capítulo inteiro falando sobre a vital importância dos livros em uma “dieta da sabedoria”.

Tendo isso em mente, pensei ser interessante elaborar uma lista com os livros que eu, pessoalmente, julguei que fossem ricos em sabedoria. Há um incontável número de livros que poderiam ser incluidos aqui, mas, de modo a me limitar, foquei em livros curtos (que decidi arbitrariamente como sendo aqueles com menos de 255 páginas) – muito embora eu recomende fortemente que você se arrisque na leitura de livros longos também! A seleção abaixo também se limita a livros de não ficção, ainda que seja provável – e possivelmente é o que farei em breve – que eu crie uma lista semelhante, mas apenas com livros de ficção ricos em sabedoria.

Alguns dos cinquenta livros abaixo – todos listados em ordem cronológica de publicação – são “clássicos”. Alguns poucos são livros mais recentes, mas pouco conhecidos ou então novos volumes com coletâneas de textos já estabelecidos como sábios pelo crivo do tempo. Obviamente que não concordo completamente com cada palavra presente nestes livros, o que não é o mesmo que afirmar que eles não me ensinaram nada. São livros que me moldaram no meu amor a Deus e sua Palavra, bem como em minha maneira de enxergar e compreender o mundo.

Se puder, pegue algum deles para ler nas suas férias – garanto que você não ficará desapontado!


1. **Santo Atanásio, *[A Encarnação do Verbo](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/2747/)*** (Quarto Século).

2. **São João Crisóstomo, *[On Marriage and Family Lyfe](https://www.amazon.com.br/Marriage-Family-Life-Saint-Chrysostom/dp/0913836869/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=OVFL2A8EL8OL&keywords=On+Marriage+and+Family+Life&qid=1655908563&sprefix=on+marriage+and+family+life%2Caps%2C201&sr=8-1&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6d798eae-cadf-45de-946a-f477d47705b9)*** (Quarto Século).

3. **Santo Agostinho de Hipona, *[A Doutrina Cristã](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/2757/)*** (Quinto Século).

4. **Tomás de Kempis, *[A Imitação de Cristo](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/8506/)*** (Século 15).

5. **Richard Sibbes, *[O Caniço Ferido](https://www.amazon.com.br/Cani%C3%A7o-Ferido-Richard-Sibbes-ebook/dp/B00HHVDC1Y/ref=sr_1_3?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=3GD3GZHHZP9Q9&keywords=richard+sibbes&qid=1655903445&s=digital-text&sprefix=richard+sibbes%2Cdigital-text%2C185&sr=1-3)*** (1630).

6. **John Owen, *[Meditações sobre a Glória de Cristo](https://www.amazon.com.br/Medita%C3%A7%C3%B5es-sobre-gl%C3%B3ria-Cristo-John/dp/8568026508#:~:text=Medita%C3%A7%C3%B5es%20sobre%20a%20gl%C3%B3ria%20de%20Cristo%20foi%20o%20%C3%BAltimo%20de,o%20estavam%20chamando%20deste%20mundo)*** (1684).

7. **Brother Lawrence, *[Praticando a Presença de Deus](https://www.amazon.com.br/Praticando-Presen%C3%A7a-Deus-Alcan%C3%A7ar-Profunda/dp/8585685646/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=ETWV7TWNTKE2&keywords=irm%C3%A3o+lawrence&qid=1655903900&s=books&sprefix=irm%C3%A3o+lawren%2Cstripbooks%2C206&sr=1-1)*** (1692).

8. **Richard Baxter, *[Walking with God](https://www.amazon.com.br/Walking-God-English-Richard-Baxter-ebook/dp/B01NBYVSJX/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=2KS723XWN6ZQO&keywords=richard+baxter+walking&qid=1655903997&s=books&sprefix=richard+baxter+walking+%2Cstripbooks%2C194&sr=1-1)*** (Século 17).

9. **Frederick Douglass, *[Narrative of the Life of Frederick Douglass]( https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/6641/)*** (1845).

10. **G. K. Chesterton, *[Ortodoxia](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/320/)*** (1908).

11. **Martin Buber, *[Eu e Tu](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/8110/)*** (1923).

12. **J. Gresham Machen, *[Cristianismo e Liberalismo](https://www.amazon.com.br/Cristianismo-Liberalismo-John-Gresham-Machen/dp/8580380189/ref=sr_1_2?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=180FFD3NK4Q19&keywords=Gresham+Machen&qid=1655904276&s=books&sprefix=gresham+machen%2Cstripbooks%2C193&sr=1-2)*** (1923).

13. **Dietrich Bonhoeffer, *[Vida em Comunhão](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/8766/)*** (1939).

14. **C. S. Lewis, *[O Peso da Glória](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/7198/)*** (1941).

15. **Dorothy Sayers, *[A Mente do Criador](https://www.amazon.com.br/Mente-do-Criador-Dorothy-Sayers/dp/8580332206/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=3GGKR0Z91F6EZ&keywords=a+mente+do+criador&qid=1655904440&s=books&sprefix=a+mente+do+criado%2Cstripbooks%2C251&sr=1-1)*** (1941).

16. **C. S. Lewis, *[A Abolição do Homem](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/7201/)*** (1941).

17. **Simone Weil, *[Peso e a Graça](https://www.amazon.com.br/PESO-GRA%C3%87A-SIMONE-WEIL/dp/6599144802/ref=sr_1_3?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=1KMSAW1077ETM&keywords=simone+weil&qid=1655904517&s=books&sprefix=simone+weil%2Cstripbooks%2C196&sr=1-3)*** (1947).

18. **Carl Henry, *[The Uneasy Conscience of Modern Fundamentalism](https://www.amazon.com.br/Uneasy-Conscience-Modern-Fundamentalism/dp/080282661X/ref=sr_1_2?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=EY2YJ64X3UGK&keywords=carl+henry&qid=1655904581&s=books&sprefix=carl+henry%2Cstripbooks%2C194&sr=1-2&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6121c6c4-c969-43ae-92f7-cc248fc6181d)*** (1947).

19. **Josef Pieper, *[Leisure: The Basis of Culture](https://www.amazon.com.br/Leisure-Culture-English-Joseph-Pieper-ebook/dp/B01AYEYFQG/ref=sr_1_2?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=30GWD0UE2ODPZ&keywords=josef+pieper+leisure&qid=1655904674&s=books&sprefix=josef+pieper+leisure%2Cstripbooks%2C179&sr=1-2&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.fcd6d665-32ba-4479-9f21-b774e276a678)*** (1948).

20. **Amy Carmichael, *[That Way and No Other](https://www.amazon.com.br/That-Way-No-Other-Following/dp/0874863031/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=1JU2D1JJXF7VU&keywords=Amy+Carmichael+that+way&qid=1655904730&s=books&sprefix=amy+carmichael+that+way%2Cstripbooks%2C180&sr=1-1)*** (Século 20).

21. **Abraham Heschel, *[O Schabat](https://www.amazon.com.br/Schabat-Abraham-Joshua-Heschel/dp/8527302330/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=C0WP61115RYG&keywords=Abraham+Heschel&qid=1655904773&refinements=p_n_feature_nine_browse-bin%3A9754444011&rnid=8529757011&s=books&sprefix=abraham+heschel%2Cstripbooks%2C181&sr=1-1)*** (1951).

22. **J. I. Packer, *[Fundamentalism and the Word of God](https://www.amazon.com.br/Fundamentalism-Word-God-English-ebook/dp/B00EP6TM2W/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=1UUVKFTB9323J&keywords=j.+i.+packer+fundamentali&qid=1655904845&s=books&sprefix=j.+i.+packer+fundamentali%2Cstripbooks%2C178&sr=1-1&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6d798eae-cadf-45de-946a-f477d47705b9)*** (1958).

23. **C. S. Lewis, *[A Anatomia de um Luto](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/7332/)*** (1961).

24. **A. W. Tozer, *[The Knowledge of the Holy](https://www.amazon.com.br/W-Tozer-Spiritual-Classics-Knowledge/dp/0802418619/ref=sr_1_2?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=1NJ2G7W34SFVU&keywords=he+Knowledge+of+the+Holy&qid=1655905267&s=books&sprefix=he+knowledge+of+the+holy%2Cstripbooks%2C183&sr=1-2&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.e05b01e0-91a7-477e-a514-15a32325a6d6)*** (1961).

25. **Martin Luther King Jr., *[Letter From Birmingham Jail](https://kinginstitute.stanford.edu/encyclopedia/letter-birmingham-jail)*** (1963).

26. **Francis Schaeffer, *[O Deus que Intervém](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/6873/)*** (1968).

27. **Jacques Ellul, *[The Meaning of the City](https://www.amazon.com.br/Meaning-City-Jacques-Ellul/dp/1606089730/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=Y3YAW8BOIMN5&keywords=jacques+ellul+the+meaning+of+the+city&qid=1655905649&s=books&sprefix=jacques+ellul+the+meaning+of+the+city%2Cstripbooks%2C182&sr=1-1&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6d798eae-cadf-45de-946a-f477d47705b9)*** (1970).

28. **Madeleine L’Engle, *[Walking on Water](https://www.amazon.com.br/Walking-Water-Reflections-Faith-Art/dp/0804189277/ref=sr_1_7?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=39IUHOWOCYUTL&keywords=Madeleine+L%E2%80%99Engle&qid=1655905677&s=books&sprefix=madeleine+l+engle%2Cstripbooks%2C187&sr=1-7&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6d798eae-cadf-45de-946a-f477d47705b9)*** (1972).

29. **Helen Roseveare, *[Living Sacrifice](https://www.amazon.com.br/Living-Sacrifice-Willing-Whittled-Arrow/dp/1845502949/ref=sr_1_2?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=VLS2B31IYRHU&keywords=Helen+Roseveare&qid=1655905726&s=books&sprefix=helen+roseveare%2Cstripbooks%2C178&sr=1-2)*** (1979).

30. **Eugene Peterson, *[Uma Longa Obediência na Mesma Direção](https://www.amazon.com.br/Uma-Longa-Obedi%C3%AAncia-mesma-dire%C3%A7%C3%A3o/dp/8576220644/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=TRLT2VKP7RDI&keywords=Eugene+Peterson&qid=1655905754&s=books&sprefix=helen+roseveare%2Cstripbooks%2C176&sr=1-1)*** (1980).

31. **Neil Postman, *[Amusing Ourselves to Death](https://www.amazon.com.br/Amusing-Ourselves-Death-Discourse-Business/dp/014303653X/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=1JT0GDDSJBR9I&keywords=Neil+Postman&qid=1655905808&s=books&sprefix=neil+postman%2Cstripbooks%2C198&sr=1-1&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6d798eae-cadf-45de-946a-f477d47705b9)*** (1985).

32. **Cornelius Plantinga Jr., *[Não era para ser assim](https://www.skoob.com.br/nao-era-para-ser-assim-66645ed73605.html)*** (1996).

33. **Alexander Schmemann, *[For the Life of the World](https://www.amazon.com.br/Life-World-Sacraments-Orthodoxy/dp/0881416177/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=27HHMF8TH0AIK&keywords=Alexander+Schmemann&qid=1655905932&sprefix=alexander+schmemann%2Caps%2C190&sr=8-1&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6121c6c4-c969-43ae-92f7-cc248fc6181d)*** (1997).

34. **Annie Dillard, *[For the Time Being](https://www.amazon.com.br/Time-Being-English-Annie-Dillard-ebook/dp/B003EJDGMS/ref=sr_1_7?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=2ECWQ1OBVMPS7&keywords=Annie+Dillard&qid=1655905963&sprefix=annie+dillard%2Caps%2C185&sr=8-7&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.25548f35-0de7-44b3-b28e-0f56f3f96147)*** (1999).

35. **Os Guinness, *[Prophetic Untimeliness](https://www.amazon.com.br/Prophetic-Untimeliness-Challenge-Idol-Relevance/dp/0801012600/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=2X022I7XI3UI&keywords=Os+Guinness+prophetic&qid=1655906037&sprefix=os+guinness+propheti%2Caps%2C182&sr=8-1&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6a09f7ec-d911-4889-ad70-de8dd83c8a74)*** (2005).

36. **Tim Keller, *[O Deus Pródigo](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/346/)*** (2011).

37. **Marilynne Robinson, *[When I Was a Child I Read Books](https://www.amazon.com.br/When-Was-Child-Read-Books/dp/1250024056/ref=sr_1_8?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=2EG7JM4YZV4HV&keywords=Marilynne+Robinson&qid=1655906155&sprefix=marilynne+robinson%2Caps%2C199&sr=8-8)*** (2013).

38. **N. D. Wilson, *[Morrer de tanto viver](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/6932/)*** (2013).

39. **Christian Wiman, *[My Bright Abyss](https://www.amazon.com.br/My-Bright-Abyss-Meditation-Believer-ebook/dp/B00ANI9EJ2/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=2KD3WLELCDKTG&keywords=Christian+Wiman+my+bright+abyss&qid=1655906247&sprefix=christian+wiman+my+bright+abyss%2Caps%2C181&sr=8-1&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.4bb5663b-6f7d-4772-84fa-7c7f565ec65b)*** (2014).

40. **Peter Leithart, *[Vestígios da Trindade](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/297/)*** (2015).

41. **Papa Francisco, *[Laudato Si: sobre o cuidado da casa comum](https://www.amazon.com.br/Carta-Enc%C3%ADclica-Sumo-Pont%C3%ADfice-Laudato/dp/8515042940/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=2L9LGMAK0N9J8&keywords=laudato+si&qid=1655906440&sprefix=laudato+s%2Caps%2C212&sr=8-1)*** (2015).

42. **Tish Harrison Warren, *[Liturgia do Ordinário](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/201/ )*** (2016).

43. **James K. A. Smith, *[Você é Aquilo que Ama](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/4923/)*** (2016).

44. **Jen Wilkin, *[None Like Him](https://www.amazon.com.br/None-Like-Him-Different-Thats/dp/1433549832/ref=sr_1_4?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=2BTZO7U510KLY&keywords=Jen+Wilkin&qid=1655906581&sprefix=jen+wilkin%2Caps%2C213&sr=8-4&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6d798eae-cadf-45de-946a-f477d47705b9)*** (2016).

45. **Jackie Hill Perry, *[Garota Gay, Bom Deus](https://www.amazon.com.br/Garota-gay-bom-Deus-hist%C3%B3ria-ebook/dp/B08WJKKBLC/ref=sr_1_3?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=2U3CKQMDXN8WG&keywords=Jackie+Hill+Perry&qid=1655906621&sprefix=jackie+hill+perry%2Caps%2C502&sr=8-3)*** (2018).

46. **Megan Hill, *[A Place to Belong](https://www.amazon.com.br/Place-Belong-Learning-Church-English-ebook/dp/B0877C9QMH/ref=sr_1_5?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=27GYNKPJVS5F2&keywords=Megan+Hill&qid=1655908234&sprefix=megan+hill%2Caps%2C714&sr=8-5&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6d798eae-cadf-45de-946a-f477d47705b9)*** (2020).

47. **Jay Kim, *[Analog Church](https://www.amazon.com.br/Analog-Church-People-Places-Digital/dp/083084158X/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=1CTP0U827J0S5&keywords=Jay+Kim&qid=1655908279&sprefix=jay+kim%2Caps%2C181&sr=8-1&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6d798eae-cadf-45de-946a-f477d47705b9)*** (2020).

48. **Rebecca McLaughlin, *[The Secular Creed](https://www.amazon.com.br/Secular-Creed-Engaging-Contemporary-English-ebook/dp/B092ZY8CXM/ref=sr_1_2?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=1VE0SEGCLBBJV&keywords=Rebecca+McLaughlin&qid=1655908319&sprefix=rebecca+mclaughlin%2Caps%2C186&sr=8-2)*** (2020) .

49. **Dane Ortlund, *[Gentle and Lowly](https://thepilgrim.com.br/catalogue/product/6170/)*** (2020).

50. **Hartmut Rosa, *[The Uncontrollability of the World](https://www.amazon.com.br/Uncontrollability-World-English-Hartmut-Rosa-ebook/dp/B08KTYMDJZ/ref=sr_1_5?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=173UKD8FP5BZ6&keywords=Hartmut+Rosa&qid=1655908394&sprefix=hartmut+rosa%2Caps%2C186&sr=8-5&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.25548f35-0de7-44b3-b28e-0f56f3f961470)*** (2020).

50 livros curtos e repletos de sabedoria

A Bíblia é a história de Deus com a humanidade. Por isso, os protagonistas dos primeiros capítulos de Gênesis são Deus e os primeiros seres humanos. Sabemos que Satanás, a serpente, estava no jardim num momento oportuno para tentar Eva, mas a Bíblia não se preocupa em nos contar como ele chegou até ali. Milton faz diferente: ele traça a jornada de Satanás, incluindo suas nuances psicológicas. O livro IV é crucial para o desenvolvimento da trama e para a explicação que Milton fornece em relação à determinação de Satanás em se vingar de Deus e dos seres humanos.

Ao aproximar-se do Éden, o estado mental do Inimigo já começa a ser afetado. Nos livros II e III, fica clara a motivação desta empreitada: vingar-se de Deus por tê-lo expulsado, juntamente aos outros anjos, do paraíso celeste. Agora, contudo, temos a revelação de que Satanás quer também se vingar dos seres humanos, aqueles que habitam o paraíso edênico, igualmente inacessível para ele. 

Milton descreve bem a mente de Satanás naquele momento de chegada: 

>Turbam-no horror, dúvida, nos seus encapelados pensamentos, e embaixo o inferno nele, que nele o inferno ele traz, bule, e em redor, pois que do inferno nem um passo a mais dá que não dê dele próprio. (livro IV, 18-23).

Num longo monólogo, Satanás exibe todo seu remorso e ódio, revelando que toda tentativa de Deus em transformar o mal em bem seria em vão – o mal sempre prevaleceria. Ele lamenta seu estado, diz que preferiria ser o pior dos anjos do que não sê-lo. 

A confusão mental provém de saber que, além de jamais conseguir reconquistar o paraíso, jamais será possível livrar-se do inferno: 

>Mísero eu! P’ra onde erguer tamanha raiva, tanto desespero? Aonde vá o inferno vai. Eu sou o inferno. (livro IV, 73-75). 

Satanás não consegue sequer enxergar a expectativa posta sobre ele por parte dos anjos caídos - ele é uma farsa, alguém que não voltará para casa vitorioso, mas ainda mais miserável. Não há esperanças para Satanás senão aceitar o mal que lhe é próprio - “foi-se o bem. Ô mal, sê tu meu bem” (livro IV, 109-110).

Após disfarçar-se de querubim e enganar o anjo Uriel, vemos a segunda transformação de Satanás; dessa vez, num corvo-marinho. Esta ave possui diversos significados em várias mitologias, como o de mensageira dos mortos (na mitologia norueguesa) e símbolo de má sorte (mitologia irlandesa). Aqui, parece que Satanás escolheu esta forma por sua capacidade de voar alto, e enxergar de forma panorâmica todo o derredor. O posto escolhido por ele para observar o ambiente foi a Árvore da Vida - provavelmente, a árvore mais alta e atraente do jardim. 

Os dêiticos (marcadores de tempo e espaço) do poema não são tão claros, mas a impressão é que Satanás, como corvo, entrou em transe ao ver o Éden de cima, ao observar a felicidade e inocência de Adão e Eva, e ficou um dia inteiro preso naquele ponto. Sua tristeza por não fazer parte daquele paraíso é confrontada com seu maravilhamento diante de formas e coisas criadas por Deus e jamais antes vistas por ele, em especial as duas figuras “altas e eretas, como Deus”:

>Mas um par sem par, tal como os seus sexos par e ímpar são: p’ra planos ele e arrojo, p’ra dulçor ela e graça que cativa; Ele por Deus só, ela por Deus nele. (...) Assim seguiam nus, sem que evitassem Deus ou anjos, pois mal nenhum pensavam. (livro IV, 296-299, 319-320).

Satanás fica impressionado e chocado por horas, dividido entre o maravilhamento e a inveja. Neste momento, consigo mesmo, ele começa a planejar sua vingança, a conjurar maldições sobre o primeiro casal, e praticando algo que, mais tarde, Adão e Eva farão: buscar alguém a quem culpar. Segundo Satanás, o primeiro culpado de tudo é Deus, por tê-lo deixado amargo e tê-lo dado motivos para se enfurecer. Mais à frente, no livro IV, temos mais uma transformação de Satanás, talvez uma das mais interessantes: um sapo. Satanás entendia que a raiz da desconfiança e desobediência do homem precisava vir da mente, e decidiu achegar-se para colocar seu plano em ação. Enquanto Eva dormia no chão, Satanás, na forma de um sapo, soprou em seu ouvido um sonho.

Em outro plano da ação, Uriel percebe que foi enganado, e os anjos discutem a respeito da natureza de Satanás, seus planos e como impedi-lo. Gabriel, responsável por guardar o jardim e sentindo-se culpado por ter permitido tamanha intrusão, questiona Satanás, o qual rebate: “quem, vendo o vau, do inferno não sairia, condenado ou não?” (livro IV, 889-890). Este recurso retórico mostra o poder de persuasão de Satanás: ele tenta fazer Gabriel colocar-se em seu lugar. O anjo não cede à investida mental do inimigo, já em sua forma natural, e ambos saem de cena. 

Eva ainda dorme.

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